Autor: Émile Zola | Editora: Zahar | Páginas: 368 | Gênero: Romance/Clássico | Avaliação: 4/5
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Desde que me propus a voltar a ler os clássicos tenho tido várias surpresas com as leituras escolhidas, principalmente no que se refere as narrativas dos livros escolhidos. Confesso que esperava encontrar livros extremamente difíceis de ler e entender, mas o que tenho encontrado são linguagens de fácil compreensão que tornam a leitura até bastante fluida.
A Besta Humana de Émile Zola acabou se mostrando um desafio para mim, peguei o livro para começar a ler alguns meses atrás, mas não consegui me envolver com a trama naquele momento e acabei adiando a leitura. Resolvi então retornar a leitura do livro, e qual não foi a surpresa ao me ver totalmente imersa na história e ávida pelos acontecimentos ao longo da narrativa? Foi realmente uma leitura surpreendente!
Publicado pela primeira vez em 1890, A Besta Humana é um romance naturalista do autor francês Émile Zola, criador e maior representante da escola literária naturalista que tem como característica o foco nas fraquezas morais das pessoas e nas realidades sociais deterioradas.
A trama se passa na França e traz a história de Jacques Lantier, que trabalha como maquinista de uma locomotiva que faz o percurso Paris - Le Havre. Ele seria apenas um simples trabalhador se não fosse sua obsessão descontrolável por matar as mulheres por quem se sente atraído. A história toma forma quando a vida de Jacques cruza com a do casal Roubaud e Séverine.
Roubaud é o subchefe da estação e até então levava uma vida tranquila e normal, tudo muda quando ele se casa com a bela e jovem Séverine. Ela possui um passado sombrio que ainda a persegue; Roubaud acaba descobrindo esse segredo e isso muda completamente o rumo da vida de ambos.
Confesso que quando comecei a ler esse livro não me senti tão envolvida por ele, tanto que até decide parar a leitura por um tempo, o começo foi um pouco arrastado e isso se deu pelo contexto da história, demorei para me conectar com os personagens e a minha leitura começou a fluir lá pela metade do livro.
A Besta Humana exalta fortemente uma das principais característica do naturalismo que traz o ser humano condicionado aos aspectos biológicos e ao meio social ao qual está inserido, percebemos isso nitidamente na forma como Zola constrói seus personagens. Jacques traz peculiaridades que me surpreenderam bastante, ele poderia ser um daqueles personagens com potencial para conquistar o leitor não fosse a patologia que o atormenta a narrativa inteira.
Jacques não é um criminoso inescrupuloso e aí entra uma das discussões do naturalismo, vemos constantemente o personagem lutar contra a necessidade física mesmo, porque ele sente impulsos físicos de cometer os assassinatos. Seu desejo de sangue está diretamente relacionado ao desejo sexual que sente pelas amantes, ele luta contra isso a narrativa inteira, mas sua natureza é mais forte e ele acaba sempre sucumbindo a violência.
Além dos personagens principais temos os secundários que retratam muito bem as diversas camadas da sociedade e trazem mais profundidade e dinâmica a narrativa. Zola foca precisamente na classe trabalhadora das máquinas locomotivas já que a história se passa no século XIX onde a sociedade estava vivendo o advento das máquinas e indústrias, assim o autor descreve minuciosamente o cotidiano das estações ferroviárias, detalha cada profissão e como vivem as pessoas que dependem dessas locomotivas.
Narrado em terceira pessoa, A Besta Humana traz uma linguagem acessível e de fácil compreensão, a leitura pode demorar a fluir por conta da forma descritiva com que o narrador vai apresentando os cenários, os personagens e o universo em que eles estão inseridos; passada essa parte inicial a narrativa evolui de forma rápida e a história fisga você de tal forma que a leitura é feita avidamente.
Além da forte crítica moral e social onde o ser humano é retratado como um ser alienado, sem valores e dominado por impulsos bestiais, as questões psicológicas e a crueza como os desejos humanos, os instintos, a miséria, a violência, a loucura e a exploração são evidenciados na trama, Zola adiciona à mistura uma pequena dose de mistério e suspense com uma investigação criminal girando em torno dos personagens.
Li o livro em ebook, mas a edição é da Zahar e o livro digital apresenta a mesma diagramação da edição física. O livro é comentado e traz ilustrações bem bonitas de várias cenas da história. Essa edição conta ainda com uma apresentação feita pelo tradutor Jorge Bastos que ajuda o leitor a se situar quanto ao contexto histórico e o estilo do autor. Não encontrei erros de revisão e a capa é perfeita!
A Besta Humana foi uma leitura surpreendente! Estava preparada para não gostar da história, mas de repente me vi tão envolvida que conclui a leitura totalmente rendida pela genialidade de Émile Zola. O desfecho é de deixar o leitor de queixo caído; essa é o tipo de leitura para se apreciar em algum momento da vida. Super recomendado!
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Oi, Rafa.
ResponderExcluirO enredo é macabro (e estranho, talvez?), mas chama atenção, por sua contextualização e o desenrolar do mesmo.
Não sei se eu leria, por causa de sua estranha peculiaridade doentia. Acredito que eu não iria sentir empatia pelo personagem e nem aceitar sua condição de vida...